Por
Rodrigo Sales
Há
algum tempo venho mergulhando no fenômeno do suicídio buscando compreender
melhor as razões que levam uma pessoa a se autoexterminar. Dentre as diversas
informações que vão desde dados estatísticos alarmantes (inclusive suficientes
para caracterizar o tema como sendo de saúde pública) passando por relatórios
médicos até chegar em conclusões científicas sobre o comportamento humano, a
mais impactante informação que sem dúvidas tirou meu sono e me fez refletir
muito foi a constatação do silêncio que existe sobre o assunto. Não há espaço
para conversar sobre o tema nos círculos de convivência humana. E é esse
silêncio que está potencializando a incidência dos casos; é ele o nosso grande
vilão.
Para
que todos tenham uma noção de quão grave é o que estou falando, segundo a
Organização Mundial de Saúde, mais de oitocentas mil pessoas tiram a própria
vida em todo o planeta. Isso equivale ao mesmo efeito de extermínio de quatro
bombas atômicas semelhantes àquelas lançadas em solo japonês. Apesar do maior
número de casos está concentrado em idosos, em número absolutos, o suicídio
cresceu mais de 24% entre jovens de 14 a 30 anos de qualquer classe social nos
últimos dez anos. Isto nos permite concluir que independentemente da idade e do
poder aquisitivo o suicídio tem sido porta para um número expressivo de pessoas
ao redor do mundo. O Brasil ocupa o oitavo lugar, em números absolutos, no
rancking mundial. E conforme as pesquisas científicas sobre o tema, devidamente
apresentadas nos relatórios da OMS, 90% dos casos relatados são motivados por
psicopatologias diagnosticáveis e tratáveis tendo como expoente o transtorno de
humor. Isto significa dizer que de 10 casos registrados de suicídio, 9 poderiam
ter sido evitados1.
Conversar,
interessar-se pela história de vida das pessoas e se predispor a encaminhar as
pessoas para o devido tratamento médico com os especialistas de saúde mental
são os principais antídotos para este mal.
No
âmbito governamental, a melhor estratégia usada para erradicar epidemias tais como
dengue, zika, febre amarela, rubéola e catapora entre outras foi a informação.
Em todo posto de saúde existe um conjunto de informativos alertando os cuidados
que se precisa ter para se proteger de tais enfermidades, como tratá-las, etc.
Ainda que ocorram casos, é possível ver graficamente o declínio de muitas
dessas doenças e associar isso rapidamente a um trabalho de conscientização da
população. Isso não só no Brasil, mas em todos os países do mundo, a
informação, o debate, a orientação e acompanhamento foram estratégias de
sucesso para o combate de tais males. Mas, por quais razões não se faz o mesmo
referente ao suicídio, uma vez que este está comprovadamente relacionado à
saúde mental? Por que não promover um debate responsável e ético sobre o tema e
levantar campanhas de conscientização para os cuidados e tratamentos para a
manutenção da saúde mental? As respostas são inquietantes.
Em
quase todos os casos de suicídio a família da pessoa evita falar sobre o
assunto. Isto porque carregam um misto de culpa por não terem percebido antes
que a pessoa não estava bem; uma sensação de raiva pelo fato da pessoa ter
pensado apenas em si e muitas vezes ter deixado os familiares em situações
difíceis do ponto de vista financeiro ou ainda o medo de serem julgadas e mal
vistas pela sociedade, dentre outros. Há ainda os que falam do Efeito Werther,
que é uma referência a um conjunto de suicídios que ocorreram na Europa no
século 19 influenciados pela narrativa da morte do personagem Werther do
livro “Os sofrimentos do Jovem Werther de Goethe”, escritor alemão.
Seria uma espécie de efeito dominó em que falar sobre o assunto potencializaria
a vontade das pessoas de experimentarem o ato.
Eu
penso que uma abordagem responsável e ética, não sobre o ato em si, mas sobre
os assuntos que rodeiam e motivam as pessoas a adoecerem mentalmente, seja
possível, principalmente dentro das famílias, nas escolas, no ambiente de
trabalho e nas rodas de amigos. É preciso dizer que a intenção de quem quer
tirar a própria vida não é acabar com a vida, mas sim eliminar a dor que está
sentindo. Por isso, é tão importante, diante de frases como “estou cansado da
vida”, “eu queria sumir”, “não aguento mais essa vida”, abordarmos
respeitosamente essas pessoas, buscando ouvi-las e quando possível
perguntá-las: onde está doendo dentro de você? E depois: Como posso te ajudar a
cuidar dessa dor? Isso é um exercício de escuta humana. Saber escutar a dor do
outro que passa por dificuldade, acolher, oferecer apoio, encaminhar para os
serviços médicos especializados e finalmente salvar vidas é o nosso maior
compromisso enquanto humanidade.
Portanto,
abramos as rodas de conversas para saber como as pessoas estão, para senti-las,
ajudá-las. Pior que uma dengue, que uma zika, que uma febre amarela é uma mente
adoecida, é um coração vazio, é uma alma que perdeu a alegria de viver.
Seja
a luz no fim do túnel na vida de alguém. Salve vidas!
Diga
sim à vida e viva a vida!
Um
fraternal abraço.
Rodrigo Sales
Expositor Espírita/PE